
Eu tenho dificuldade em encerrar as coisas
Percebi isso durante uma tarde de sábado. Eu estava fingindo que estava assistindo ao filme na televisão, enquanto segurava forte meu celular, esperando uma mensagem de alguém que eu sabia que não mandaria nada naquele dia. Infelizmente eu já estava nesse dilema há algumas semanas, após meses vivendo uma relação complicada com esse sujeito, e eu sabia que ia dar errado muito antes de começarmos a sair, e também que deveria encerrar isso antes que eu saísse machucada – afinal, eu sabia que ele não estava tão interessado assim na relação, para de fato se envolver e acabar machucado no final das contas. Eu sabia disso o tempo todo, eu precisava terminar. Eu precisava me afastar dele e seguir em frete.
Mas ele sempre voltava para minha vida e eu deixava.
Foi aí que percebi; tenho dificuldade em terminar as coisas. Ainda mais quando essas coisas são cheirosas com uma barba irresistível. Mesmo que essa coisa me faça mal, me deixe vazia e me sentindo a pior pessoa do mundo. Comecei a reparar que nós sempre sabemos; sempre sabemos quando há algo errado, quando as coisas estão fora do lugar e que merecemos mais. Sempre sabemos quando não devemos mais insistir e seguir em frente, mas porque não fazemos isso né? Porque é tão difícil terminar as coisas. Para mim, era quase impossível. Eu ficava como uma estação vazia, parada no meio do nada esperando alguém aparecer, ficar por um tempo e depois partir me deixando sozinha outra vez. E isso me machucava. Eu mesma me machucava, e não podia mais culpar ninguém. Nem o acaso, nem a vida e nem o sujeito em questão.
De alguma forma, eu estava atraindo relacionamentos falidos para mim, e assumir isso foi difícil. Assim como foi difícil perceber que o que eu queria e esperava desse sujeito era atenção. Mesmo que atenção negativa, afinal, o relacionamento não era um bom relacionamento, né? Essa carência afetiva me fazia continuar atada a relacionamentos vazios e falidos com medo de ficar literalmente sozinha. Mas quando paro para pensar, eu sempre estive sozinha. Mesmo com esses caras indo e vindo, mesmo comigo agarrada a um celular e esperando uma oportunidade de gastar algumas horas com alguém que sempre sumia em seguida. Atenção nenhuma, por melhor e mais confortante que fosse, valia isso.
Mas eu demorei a entender.
E ainda é difícil. É difícil porque a conversa é boa, o sexo é ótimo e a gente se dá bem, e algo dentro de mim sempre parece tremer me dizendo que eu não deveria perder essa chance, que ele pode nunca voltar, e que eu vou ficar sozinha… e ficar sozinha é tão ruim. Sempre preciso me lembrar que isso não sou eu, que isso vem do ego. E de um ego inseguro e frágil, que só quer atenção. O meu eu de verdade quer é amor. E não essa atenção vazia.
Eu ainda tenho dificuldades em encerrar as coisas, mas estou melhorando e trabalhando. Trabalhe isso também. Afinal, ficar atada ao que nos fere não nos impulsiona para frente, apenas nos mantém refém de uma ilusão. E a ilusão nunca evolui – e nem nos deixa evoluir.
Mariana Ravelli
Sempre tem alguém pra me dizer que estou falando muito alto ou que não preciso ser tão incisiva, mas a verdade é que o tempo passa e eu continuo ficando mais ácida e as pessoas mais chatas. Não gosto de barulho, não gosto de gente. Gosto de chás e cachorros fofinhos. Não toque no meu cabelo.

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