Corpo-memória,  Reflexão

Zona de conforto

Nunca acreditei muito nisso; zona de conforto.

Me pareceu sempre uma desculpa dada a uma familiaridade comum, mas acabei pagando língua – quem diria. A zona de conforto existe, e devo te dizer que ela é muito mais que apenas um lugar em que você se sente seguro, ela é um monstro que te segura sem que você se dê conta. E não é um monstro feio e assombroso, é um mostro familiar. Algo que te desperta o sentimento de segurança e paz.

Minha zona de conforto nem foi feita por mim.

Meus pais forraram essa cama, me criando como a delicada menina de vidro. Cresci sendo a mais fraca, frágil, adoentada, aquela que não dá conta sozinha, que precisa de ajuda. Minha irmã foi criada mais livre, solta, com mais independência. Não tem nada que ela não tente ou consiga. Já eu, às vezes sinto que não saio do lugar. Seria medo do fracasso? Medo de tentar? Preguiça? Tudo me parece um bom motivo para não sair da minha zona de conforto, de onde eu sei que sozinha eu não dou conta de enfrentar o que pode vir. Se eu sei que vou quebrar, se eu sei que sou fraca, porque tentar? O que estou tentando provar a mim mesma? Percebi que nada. Nem provar, nem tentar, nem agir e nem errar. Mas também, nem ser feliz. E isso me apavora.

Percebo então que minha preguiça vem dessa zona de conforto. A sensação de que não dou conta vem dessa zona de conforto, o medo de não saber o que fazer, de ficar insegura, de não saber escolher ou bancar as próprias escolhas… tudo alimentado por essa zona de conforto que me foi entregue por outras pessoas, e não por mim mesma. Não posso mudar o que foi, então tenho que começar agora, pouco a pouco, para deixar essa zona, andando um passo de cada vez em busca de quem eu realmente sou além dessas considerações que me entregaram sobre mim mesma. E eu burra, acreditei…

Sempre tem alguém pra me dizer que estou falando muito alto ou que não preciso ser tão incisiva, mas a verdade é que o tempo passa e eu continuo ficando mais ácida e as pessoas mais chatas. Não gosto de barulho, não gosto de gente. Gosto de chás e cachorros fofinhos. Não toque no meu cabelo.

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