Corpo-memória,  Reflexão

Estou arrumando a casa

Dizem que quem não ouve a melodia, acha louco quem dança. Quem não enxerga a bagunça, também acha louco quem se agita pela organização.

Me vejo emperrada em meio a caixas e móveis de uma vida que não me pertence mais. Escolhas obsoletas, conceitos que não me representam e lembranças que não me inspiram ou comovem. Decido então mudar. Trocar a cor do quarto, reformar a sala, comprar novas coisas para a cozinha e tudo o que todo mundo consegue pensar é que eu sou louca.

Louca, exagerada, irritante. Vive no mundo do lua. Para que tanta movimentação? Para que tanta mudança?

Me pergunto: como podem eles não mudarem? Como podem se aterrar, inertes, como árvores e aceitar a infelicidade?

Convivo por entre os cômodos com a ansiedade e a depressão. Esbarro na bulimia, na agonia e na culpa. Desisti de lutar contra eles, e aceitei meus demônios. Talvez eu possa aprender com eles. Talvez eu possa crescer com eles.

De qualquer forma, e independente do que me espera, estou arrumando a casa. Estou tentando entender a bagunça.

Sempre tem alguém pra me dizer que estou falando muito alto ou que não preciso ser tão incisiva, mas a verdade é que o tempo passa e eu continuo ficando mais ácida e as pessoas mais chatas. Não gosto de barulho, não gosto de gente. Gosto de chás e cachorros fofinhos. Não toque no meu cabelo.

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