
Ela
Você me diz que não sabe.
Sorri, sem jeito, dizendo que foi a vida que quis assim. Vocês não tinham como ficar juntos, quem diria… eram diferentes demais, houveram muitos problemas, ela era complicada e você um babaca. Sabemos as desculpas, todos nós um dia na vida já apelamos para elas. Entendo suas ressalvas para com ela. De todas as mulheres que eu já conhecera, ela era a mais louca. E quando digo louca, digo intensa. Digo pesada, interessante, extensa. Ela era demais. Não é todo cara que aguenta. Veja só, você mesmo não aguentou.
Não tem porque mentir para qualquer pessoa ou para si mesmo. Você deve ter tido seus motivos, eu sei que ela sempre exigiu demais! Ela nunca fazia nada sem motivos, e se abriu espaço na vida dela para você, provavelmente você fez por onde. Mas ganhar a chave da porta, meu amigo, não é sinônimo de que a casa é sua. Sei bem que ela pode ser doce e violenta, assim como dura e graciosa. Eu sei dos rompantes emocionais. Eu sei da montanha russa que ela é, e de como ela capaz de nos levar do céu ao inferno por uma vírgula fora do lugar. Entendo bem seu receio, se foi isso que te ocorreu. Entendo que ela te fez questionar tudo, te levou ao limite e no fim, entre ela e sua sanidade, você correu para si mesmo e deixou-a partir. Eu compreendo.
Uma pena para você, no entanto.
Nós dois sabemos que depois de ser feliz com ela, fica muito difícil ser feliz com outra mulher. E não é licença poética, é um fato. Não há outra mulher como ela, embora haja mulheres incríveis e interessantes. Embora haja mulheres que são capazes de nos fazer perder a cabeça, não há alguém como ela. Depois de tudo, confesso que a sensação de vazio é violenta. Depois que ela passa, feito um vendaval, o silêncio é desesperador. Eu poderia ter ficado louco – mais louco do que ficava quando estava ao lado dela. E confesso outra vez: eu voltaria, se ela ainda me quisesse. Tentaria de novo, com mais afinco desta vez, convencê-la a ficar do meu lado e que sou digno de seu amor. Ah, se eu pudesse… mas ninguém a convence de nada. Você sabe disso.
Todo mundo que já a amou sabe.
E agora, só nos resta as lembranças. Flashes e momentos que queimam em nossas memórias. O barulho abafado da risada debochada dela ou de como ela parecia nos olhar como se nos analisasse. Ela parecia muito longe na maioria das vezes, mas ela estava lá. Deitada no meu colo, andando de calcinha pela casa ou deixando claro sua opinião – e que Deus me livre quem fosse contra ao que ela dissesse. Ela era demais. Essas três palavras me assombram, enquanto remoo essa relação que não deu certo. Da mesma forma, que você, justificando para mim suas decisões, mostra-me que você também reflete sobre isso. Ela jamais deixou sua lembranças, embora tenha partido da sua cama – e da sua vida.
Padeço-me da sua dor, e entendo seus motivos. Errei como você, talvez pior… quem poderá dizer? E digo com propriedade, meu querido, que pior do que a sensação de vazio que nos atinge com sua ausência, é ser esquecido por ela como eu sei que fomos.
Como tudo foi.
Ela partiu sem volta. Sem nós. Só ela.
Sempre ela.
Anna Montez
Uma flor de muitas pétalas, que adora o silêncio e a possibilidade de se redescobrir através das palavras. Publicitária, comunicadora nata e aspirante a socióloga de bar. Adora uma causa perdida, um drama shakespeariano e beijo sedento no final da frase. Sou viciada em histórias. Me conte a sua.

Reflexões sobre valores e pinhas
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