Hoje é um dia bom

Você está com depressão. Aí está uma coisa que ninguém quer ouvir. Sempre imaginei que a depressão fosse um marasmo de tristeza, mas na verdade é uma imensidão de vazio. É uma completa apatia. É como se eu vivesse alheia ao mundo. Nada me emociona, me toca ou me cativa. Por conta do diagnóstico, me forço a seguir uma rotina. Hora para levantar, hora para almoçar, hora para dormir. Me pergunto qual será a hora para sentir, a hora que eu vou ter a paz de um dia bom ou a leveza de uma risada intensa e verdadeira. Porque nada disso existe aqui. Por aqui tudo é nada.

Há dias em que acordo bem humorada e disposta, e depois de um tempo me bate um cansaço em que tudo o que tenho que fazer pode esperar. Mal consigo me mexer. A cabeça repete sempre a mesma coisa: você está fadada ao fracasso, sua vida vai ser essa para sempre, você nunca vai ser ninguém. Deitada na cama em posição fetal, dormir é a única coisa que me resta para não sucumbir a pensamentos que sei que não são meus, mas vêm até mim.

Pensar que tenho algum compromisso mais tarde me deixa ansiosa e angustiada. Não quero ver ninguém, não gostaria de sair da minha casa. Estou cansada. Por que ninguém entende que eu estou cansada? Viver não deveria ser tão difícil assim. Mas não estou vivendo, apenas existindo. Toda essa situação levou a parte boa da vida. Tenho lutado para reconquistá-la, saqueando de volta aquilo que ela me roubou na calada da noite. Mas é muito difícil. Eu estou sozinha, sem suporte ou apoio internamente. É uma luta interna e solitária e persistente. E acho que já disse que estou cansada, não é?

Penso sempre nisso ao longo dos dias e nos rompantes que tenho. Quando tudo parece ruim e que vai me engolir, tento lembrar da minha condição e que nada é, apenas está. Eu vou vencer mais essa batalha. Eu vou matar mais esse leão. Hoje eu só preciso sobreviver ao hoje. Amanhã já é outra história e então o dia começa outra vez. Bons dias maus dias. Hoje é um dia bom.