
O outono em mim
Tá bem ruim de escrever.
Sinceramente, olho para a página em branco e me pergunto como consegui gerar tanto conteúdo para textos e agora… Bom, agora eu não sei. Penso que a primavera literária cedeu espaço para um verão arrebatador que me deixou abafada e apaixonada, e agora, o outono me invadiu e com as mudanças que exige, ele também tem me cobrado seriedade e resguardo. A ausência de palavras para trabalhar aqui só passa de um desalinho de inspiração com a realidade, e uma ressaca sentimental que me deixa confusa sobre como abordar temas que eram tão simples para mim. O outono realmente chegou por aqui e agora me vejo forçada a assumir para mim mesmo que preciso de tempo.
No entanto, mesmo que eu queira que o tempo seja pouco e poético, o inverno se aproxima e talvez esse tempo aumente… E mais uma vez eu não sei como seguir. Toda essa sobriedade que esse outono me cobra me força a confrontar verdades esquecidas em mim mesma e sentimentos que a muito abafei e fingi que não estavam ali. Esse momento exige que eu comece — de vez agora — arrumar a desordem interna, organizar os móveis e a decoração e jogar fora tudo o que não me agrega mais ou faz sentido.
Não só sentimentalmente, como também física e psicologicamente.
Talvez isso não te faça sentido, e tudo bem, mas nessa nova fase da minha vida, embora eu não consigo escrever por aqui, tudo que vejo no dia-a-dia exala poesia. Como crianças aprendendo a andar e caindo até conseguir, folhas caindo de árvores e deixando-as nuas e ressecadas, mostrando que a beleza um dia acaba, mas volta também. Tudo é um ciclo. Tudo tem seu tempo. E o meu tempo agora não é o tempo da escrita. É o tempo do resguardo, da meditação, de amadurecer. Talvez eu ainda esteja no começo dessa nova caminhada… ainda começando a mudar o que lá na frente vai ser realmente incorporado no meu ser, e tudo bem. Aceito e agradeço.
Cada um tem o outono que merece e precisa, e eu preciso dessa pausa, então vou me permitir esse tempo. Como uma mãe que embala seu filho adoecido no colo, vou cuidar de mim enquanto reorganizo certezas, aprendo novas coisas e reciclo meu modo de escrever. Tudo faz parte. A primavera um dia vai voltar, mas primeiro eu preciso vencer esse outono e encarar o inverno… que apesar de frio e cruel, é necessário. É como cruzar uma ponte. Do outro lado me esperam flores e textos maravilhosos. As palavras vão voltar a se encaixar… mas até lá, adeus.
Mariana Ravelli
Sempre tem alguém pra me dizer que estou falando muito alto ou que não preciso ser tão incisiva, mas a verdade é que o tempo passa e eu continuo ficando mais ácida e as pessoas mais chatas. Não gosto de barulho, não gosto de gente. Gosto de chás e cachorros fofinhos. Não toque no meu cabelo.

Acabou, mas não vai ter fim
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