
Com ela vale tudo
A primeira coisa que ela me disse foi que ela era geminiana.
Me contou que quando estava feliz falava demais, que sempre sentia demais, amava demais, sentia demais, esperava de mais, e que o copo estava sempre cheio demais para ela. Disse que não sabia ser pela metade, que não sabia esconder o que estava sentindo, e que quando estava feliz era incrível, mas quando estava mal era o fim do mundo também. Eu poderia até pensar que ela era um pouco carente, atrapalhada, meio boba, mas a palavra certa era intensa. Toda intensa. Com eletricidade correndo pelas veias. Com leveza na ponta dos dedos, e sorriso fácil no rosto.
Ela vivia dizendo que tinha um dedo podre para os caras, que era toda errada e até um pouco insegura. Mas a verdade, era que mesmo que ela não se desse conta, é que ela não gostava de nada que não fosse de verdade. Ela gostava de envolvimento real. Gostava de beijo na boca para perder o ar, declarações de amor cafonas, e crise de ciúmes engraçadas do nada. Gostava de dedicatórias em livros, mensagens de eu te amo de madrugada e de dormir até tarde. Café da manhã na cama só depois da dez da manhã. Ela amava o frio, amava jazz e blues, amava escrever as terças-feiras à noite com sua taça de vinho branco. Amava se apaixonar por alguma coisa ou alguém. Sem paixão ela se sentia definhar e perdia a inspiração.
Precisava estar envolvida. Precisava estar entregue.
E entregue, era como eu ficava quando ela sorria pra mim, ou quando ela deitava a cabeça no meu ombro, pedia carinho ou dormia no meio de um filme. Apesar dela se irritar fácil, de não conseguir esconder suas opiniões e ser incisiva quando defendia seu ponto de vista, eu estava apaixonado. Estava arrebatado naquelas mãos pequenas, mas firmes, que lutavam como ferro em busca do que acreditavam. Apesar da cara doce, do temperamento forte, da pele macia, ela tem o cabelo bagunçado e não suporta mentira. O coração dela ama com força. Com ela é tudo ou nada. Com ela, vale tudo.
Morro de medo dela me deixar. Apesar do medo de perdê-la, tento ser forte.
Anna Montez
Uma flor de muitas pétalas, que adora o silêncio e a possibilidade de se redescobrir através das palavras. Publicitária, comunicadora nata e aspirante a socióloga de bar. Adora uma causa perdida, um drama shakespeariano e beijo sedento no final da frase. Sou viciada em histórias. Me conte a sua.

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