Confessionário

Assuma o controle da sua própria vida. Eles dizem.

Como fazer isso se a depressão tomou tudo aqui. Como fazer isso se hoje já não escolho vontades, enxergo tudo cinza e luto para dar pequenos passos da cama para o banheiro. Consciente da minha condição, eu peço sua compreensão. Verbalizo minha confusão mental e emocional e peço que me ajudem a transpor essa luta. Eu preciso dormir. Preciso descansar. Preciso desligar. Estou tão cansada. Constantemente cansada. As vezes estou cansada de estar tão cansada, em que dormir é a única saída para não pensar e não sofrer.

A agonia é constante. Será que vai ser assim pra sempre? Como será o futuro? Alguém vai me entender? Por que todo mundo quer que eu faça coisas que sabem que eu não consigo fazer? Eu estou tão cansada. Eu poderia encarar o nada por horas e ainda assim me cansar. Não tenho sonhos, não tenho vontades, não sinto fome.

Mas no meio disso emerge a compulsão. Minha mente e meu corpo buscando encontrar um alívio em meio ao marasmo sem cor. Comprar. Comer coisas calóricas e depois me forçar a vomitar. Passar mal de segunda a segunda. O corpo pedindo socorro mais rápido que sua mente é capaz de processar. Há dias que penso em me jogar de uma escada só para ir ao hospital e ser internada e ficar lá. No silencio esterilizado. Sozinha, dopada, alheia aos meus pensamentos que não são de fato meus mas vem de mim. Ou são meus mas não fazem bem para mim.

As pessoas insistem em me dizer que positivismo e ação resolveria. Eu gostaria que fosse assim. Tenho medo de sair de casa, de ir a academia, de passar mal na casa de amigos, de dirigir e simplesmente me deixar ir. Encaro meu reflexo no espelho e insisto em me lembrar que a depressão é um desequilíbrio químico do corpo, não uma sentença. Mas não posso mentir para aquela que encontro do outro lado, ela não acreditaria em mim. Nem eu mesma acredito.