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É hora de limpar a poeira e te deixar ir

Hoje eu estava me lembrando, Salame me lembra meu ex. Fluminense, grupos de pagode e sofá. Coisas incomuns mas que me lembram desesperadamente uma pessoa que marcou absurdamente minha vida. E não de uma forma determinantemente boa. É meio piegas assumir que em algum momento essas coisas me doeram e me fizeram muito mal. Mas com o tempo eu tive que aceitar que não dá para assistir TV só na cama, ou sentada no chão da sala, pois uma hora ou outra eu teria que encarar o maldito sofá. E ele era até confortável!

Mas não foi fácil. Ele estava em todo lugar. Estava nas letras de pagode, no cheiro de salame defumado que vinha da cozinha, ou quando eu ouvia alguém comentar sobre o clássico Fla-Flu. Doeu por um tempo, e o tempo foi passando, e a gente que sempre acha que vai morrer mas não morre. Acha que vai ser a última vez que vai aguentar, mas não é assim. Por fim, eu vi que teria que me privar de tudo que me lembrava o meu ex, por que sem isso eu não iria superar. E veja lá, eu sou bem adepta aquela coisa de que o que não mata, fortalece, mas com certas coisas não dá para lidar. E com ele não dava. Era oito ou oitenta. Eu sabia que não ia morrer de amor, mas naquele momento eu precisava limpar a poeira e deixar ele ir.

Mesmo que no fundo eu não quisesse isso. Afinal, a lembrança dele era a única coisa que restava.

Demorou, mas aos poucos foi parando de doer. O corte foi parando de latejar, até que eu não lembrava mais dele. Nem de nada que podia me lembrar a ele. Tratei de guardar só o que importava, e joguei o resto fora. Limpei a poeira. Fiquei mais de um ano sem sentar no sofá, sem ir ao cinema ou então sem ter coragem de ir no show do exalta samba. E no final, mais nada doía. Mais nada lembrava você. Nem mesmo a saudade. Você saiu com a poeira.

Uma flor de muitas pétalas, que adora o silêncio e a possibilidade de se redescobrir através das palavras. Publicitária, comunicadora nata e aspirante a socióloga de bar. Adora uma causa perdida, um drama shakespeariano e beijo sedento no final da frase. Sou viciada em histórias. Me conte a sua.

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