
Sobre perder-se em si mesma
Eu me perdi em mim mesma.
Gosto da metáfora de que nossa vida é uma casa e que lidar com os problemas e desafios é como arrumar os cômodos e limpar a poeira. Tal fato sempre fez sentido para mim, e me ajudou a enfrentar as coisas com a certeza de que resolvendo as pendências, limpando tudo e deixando ir o que já não me servia, eu ficaria bem. Fez sentido, funcionou. Foi ótimo.
No final das contas, ter minha casa interna arrumada foi motivo de orgulho. Eu estava bem depois de tanto tempo me sentindo miserável. Batalhei tanto para conquistar a mim mesma, e apoiei muitas pessoas nessa busca por si próprias. No entanto, no decorrer da vida ou talvez perdida em minha nova felicidade preciosa, perdi-me outra vez. Talvez tenha comprado móveis demais, aceitado cuidar de coisas que não eram minha ou entulhado coisas desnecessária e deixado a sujeira se acumular. Outra vez me encontro perdida em mim mesma, confusa, sem saber o que fazer e para onde ir, e o pior: com uma casa imensa para arrumar.
É uma verdade as vezes difícil de aceitar.
No entanto, diferente de quem eu era há anos atrás, eu tenho mais responsabilidade, menos tempo e relações sociais que precisam da minha atenção. Meus medos mudaram, mas minhas certezas também e o mundo parece um caos. Tudo contribui para que eu fique louca, e as vezes me pergunto se não é o melhor por hora. Deixar-me surtar, aceitar o caos e vê o que fica depois que a tempestade passar. Do outro lado, penso que me entregar o desespero não ajuda e que preciso agir. Eu preciso confiar, e buscar me encontrar no meio de toda a confusão. Entre reflexões, acabo parada no mesmo lugar e o desespero apenas aumenta. Insegurança, medo, ressalvas, bloqueios, dor. Tudo é uma mistura de sensações.
No entanto, ainda no meio do caos, perdido por entre as paredes desconhecidas e já descascadas, encontro quadros antigos. Fotos de momentos passados, textos que escrevi em outra época e me relembro: mesmo perdida, ainda estou em mim. O caminho parece nublado, mas está lá. Preciso apenas dar o primeiro passo. Eu vou estar lá por mim.
Sempre.
Mariana Ravelli
Sempre tem alguém pra me dizer que estou falando muito alto ou que não preciso ser tão incisiva, mas a verdade é que o tempo passa e eu continuo ficando mais ácida e as pessoas mais chatas. Não gosto de barulho, não gosto de gente. Gosto de chás e cachorros fofinhos. Não toque no meu cabelo.

Nós fomos bons

Afinal, ao final, à final
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