
Nossa última transa
Nossa última transa foi corrida. Abafada, desesperada. Nós dois parecíamos estar mais brigando do que de fato transando. Na época eu não entendi, nem se quer parei para reparar; eu estava chateada e você também. Hoje eu percebo que nós dois estávamos mais nos libertando do que nos amando no sofá da tua casa. E eu saí tão rápido aquele dia, batendo a porta atrás de mim, que te peço desculpa pela minha imensa falta de educação – e consideração. Nós tínhamos tanta coisa para discutir e resolver, mas preferíamos afogar isso por entre os beijos e os gemidos dolorosos. Nossa última transa foi apenas isso; o fim, mas instaurou um reinando de saudade e questionamentos logo depois.
Aposto que se você parar para pensar, vai acabar concordando comigo que ao longo do tempo juntos nós deixamos a desejar. Nós pecamos nas primeiras coisas, e nos preocupamos com detalhes que não eram nem de longe mais importante do que simplesmente segurar a mão um do outro. O ressentimento foi regado aos poucos, crescendo e se alastrando e fomos tornando-nos dois estranhos que ainda se amavam quando transavam. Era o que restava de nós; o calor, o momento, a entrega. E a raiva. E a mágoa. E o sentimento de estar se negligenciando. E isso não tinha volta. Cada vez que transávamos com toda aquela entrega, mas com aquela mágoa também, era um passo a mais no final da nossa jornada. Aquele sábado a tarde na tua casa, na sala, foi só o último prego no caixão. O clima fúnebre no final entregou isso.
Deixamos de conversar com as palavras e passamos a nos falar apenas nos silêncios do escuro. É triste saber que nenhum de nós sabia se expressar e muito menos, conversar. Nossa última transa marcou um período de transição para nós dois, e amadurecimento também. Tenho boas lembranças, no final das contas. Até mesmo daquele dia no sofá, que apesar de rápido e frívolo, marcou-me a alma como um lembrete do que eu não quero mais para mim. Espero que você tenha te marcado também.
Anna Montez
Uma flor de muitas pétalas, que adora o silêncio e a possibilidade de se redescobrir através das palavras. Publicitária, comunicadora nata e aspirante a socióloga de bar. Adora uma causa perdida, um drama shakespeariano e beijo sedento no final da frase. Sou viciada em histórias. Me conte a sua.

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