
O teu colo ainda é meu
A casa ainda cheira a nós dois. Fechada há tanto tempo, eu quase me esqueci da senha de acesso. Depois de cruzar a escada, o corredor silencioso entrega as lembranças de todos esses anos que se passaram. Foram tantos dias, tantos momentos, tantas conversas e confrontos. A gente se bateu de frente, se reencontrou depois das brigas e manteve-se juntos através dos beijos. Mesmo depois de tudo, ainda estamos aqui. Te reencontrar sentado na sala foi uma novidade, fazia muito tempo agora. Foi bom descobrir que teu colo ainda é meu.
Ainda somos nós. Você ainda é você. As marcas do tempo insistem em marcar nossa pele, assim como as tatuagens contam histórias que você não conhece por aqui. Enquanto conversamos, a gente percebe que o tempo sempre parece pouco. Sempre é. Tudo parece tão pequeno, tão insuficiente. A gente segue transbordando ainda sem ter como, mantendo-se como uma avalanche que não pode mas insiste em irromper por esses vales. Enquanto meus braços te embalam, eu rezo para que tenhamos tempo. Enquanto você me abraça, você me pede para ficar um pouco mais. Por que as coisas parecem tão difíceis para nós? Não deveria ser tão complicado ficar junto. O amor não deveria ser assim. Entretanto, teu colo ainda é meu. Não consigo ignorar.
E a gente segue em frente. Vive a vida, encara os desafios. As mudanças vieram às duras penas, e o amadurecimento chegou cobrando seu espaço. Quem olha agora não imagina que lá atrás nós éramos aqueles dois adolescentes cheios de sonhos e desejos. Aposto que eles jamais imaginariam que estaríamos aqui agora. Não tão fortes, não tão entrelaçados. A gente sempre teve certeza de que se não desse certo, daria muito errado. Mas nós erramos amor, nós não acertamos em nada. Apesar dos desencontros, as linhas insistem em se cruzar, unindo-se em intercessões calculadas para que possamos ainda ter um pouco de nós dois. A gente se agarra ao que pode, bebe até a última gota e não entende por quê: por que ainda estamos aqui? Por que não acaba?
Me questiono se em algum momento as intercessões irão se esgotar e poderemos enfim tomar a mesma direção, unindo-nos em uma mesma via. Será que um dia haverá um depois? Será que um dia haverá algo além? Independentemente do que for, eu preciso acreditar que haverá um depois. Teu colo ainda é meu. E meu coração segue sendo teu.
Anna Montez
Uma flor de muitas pétalas, que adora o silêncio e a possibilidade de se redescobrir através das palavras. Publicitária, comunicadora nata e aspirante a socióloga de bar. Adora uma causa perdida, um drama shakespeariano e beijo sedento no final da frase. Sou viciada em histórias. Me conte a sua.

Tenha um feliz amor de natal

O nome dele era Samuel
Você pode gostar

Ilumine-se em suas sombras
11 de julho de 2024
Uma mensagem para o cara de março
27 de março de 2025