
São nos detalhes que a gente fica
Gosto de pensar que o acaso não existe e que tudo que acontece, acontece porque tinha de acontecer e como tinha que ser. Na minha vida, casualidades não existem, tudo é detalhe do destino que insiste em nos enrolar em suas linhas sinuosas. São nesses detalhes que a gente fica, são nesses caminhos que a gente se agarra e se encontra. Se não fosse assim, o que explicaria nós dois nos encontrando em um dia de chuva, na porta da faculdade usando a mesma blusa de apoio ao MST? Quem explicaria que meu guarda-chuva iria se embolar no seu, e nos dois, já encharcados, teríamos que correr para o outro lado da rua em busca de abrigo? Eu nem te conhecia. Você fazia medicina, eu psicologia. Nossas aulas não eram as mesmas, eu não conhecia seus amigos, você nunca tinha me visto na cantina. Mas como um relógio em curso, a gente se encontrou quando tinha que ser. O destino é bom nessas coisas.
Depois a gente descobriu outros detalhes, outros pedacinhos de pão que construíam essa teia que nos levava um ao outro. Eu lia Harari e você sabia os livros dele de cor. Eu adorava Rick e Morty e você tinha uma tatuagem dos dois. Gostávamos de vinho branco, tínhamos a mesma alergia a frutos do mar. Você veio da cidade que minha mãe nasceu e nossas avós estudaram juntas. Nós dois adorávamos psiquiatria, física e macarrão com queijo prato em cima. As mesmas crenças religiosas, os mesmos amigos fãs de uma cerveja gelada e com discursos anti-fascistas. A cada ponto em comum era como se eu sentisse nossa cumplicidade se alastrar ainda mais e com ela a minha atração e carinho. E através dela o meu tesão e apego. Não posso dizer que nosso relacionamento desenrolou-se de forma fácil; eu tendo a ser complicada mas você é obstinado. Quando coloca alguma coisa na cabeça vai até o fim. E eu bom preciso de motivo para tudo. Eu não ia abrir espaço na minha vida a troco de nada mas você me ofereceu vários. Me apaixonei.
Ainda me lembro da dedicatória que você escreveu no primeiro livro que me deu, do nosso pedido de namoro escrito no guardanapo na nossa cafeteria preferida. Aprendi os nomes dos personagens daquele seu anime preferido para conseguir entender quando você me contasse as novidades. Passei a assistir doramas para entender a sua afeição exacerbada por esse novo gênero. Tem três anos que você faz café todo dia de manhã, mesmo não tomando café. Nossos detalhes são peças graciosas dessa história que insiste em se fortalecer apesar dos pesares. Apesar do meu mau humor, apesar da sua impulsividade. A gente se ama, a gente se cuida e a gente se joga para sempre em busca de um amanhã e de um depois. O destino uniu nossos caminhos mas eu sei que depende da gente continuar juntando essas esquinas. O bom é que a minha esquina sempre cruza com a tua.
Anna Montez
Uma flor de muitas pétalas, que adora o silêncio e a possibilidade de se redescobrir através das palavras. Publicitária, comunicadora nata e aspirante a socióloga de bar. Adora uma causa perdida, um drama shakespeariano e beijo sedento no final da frase. Sou viciada em histórias. Me conte a sua.

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