
Sem retornos para nós dois
Revisando alguns textos antigos, encontrei uma pasta com seu nome. Dentro dela, inúmeros relatos de momentos de nós dois. Se eu não conhecesse nossa história, diria que provavelmente ainda estaríamos juntos. Você tem essa aura libriana, e eu seguia apegada no meu vênus em touro. A gente até se dava bem, até não se dar mais. Hoje, olhando para trás, consigo perceber inúmeras fagulhas que teriam incendiado tudo, mas tinha que ser você. Tinha que ser você, sua traição, suas mentiras. Foi isso que ateou fogo a tudo que estávamos construindo, e depois nada fazia sentido mais. Mesmo que a grama, em um primeiro momento, crescesse verde. Estava fraca. Não cresceria mais nada ali.
Eu deveria ter percebido antes. Como não percebi, acabei me machucando.
Nesse ponto, não há mais a quem culpar: eu deveria ter sido mais firme, ido embora sem olhar para trás, mas acabei voltando mesmo sem ser o que eu queria de verdade. Eu já gostava de outro aquela altura, mas era fraca para admitir. Hoje vejo isso com clareza, mas naquela época, eu jamais assumiria em voz alta. Mas hoje, quando encontrei a pasta, fiquei surpresa. Tantos textos, tantos momentos nossos que nem parecem mais serem meus.
Eu li alguma coisa sobre nosso primeiro encontro, final de fevereiro de 2011. Do filme que assistimos, do beijo de cabeça para baixo e a música que embalou nosso silêncio por muito tempo depois. Também encontrei confissões sobre o dia 20 de março, que embora eu nem me lembrasse mais, foi o dia em que você disse que me amava. Eu não lembrava da data, mas me lembro de você sentado no para-peito da janela, me abraçando e murmurando isso do nada. Eu fiquei sem voz. Mas não disse de volta. Eu não sentia aquilo na época, e hoje me pergunto se um dia senti de verdade. O amor… ele é diferente quando temos quinze e vinte cinco anos. Hoje eu te digo que não te amei, mas naquela época, eu tinha certeza que estava apaixonada. Mas não foi o suficiente.
Pelo menos, não para me fazer ficar. Ou não te fazer errar.
Algumas cartas depois e encontrei sua confissão. Você me dizendo que me amava, embora tivesse me traído. Hoje eu me pergunto que tipo de amor é esse que mente e machuca, mas na época eu não pensava assim. Eu acreditei quando você disse que sentia muito, e não te condenei, afinal, pessoas erram. Mas você não me perdoou quando eu errei. Quando eu disse que estava confusa e segura, você não entendeu. Você não perdoou. Você não me deu nada.
Então, me diga, amor, porque eu deveria te dar qualquer coisa depois disso? Porque eu deveria te dar qualquer coisa agora?
Hoje eu não sinto saudade. Hoje eu não sinto sua falta. Hoje eu não sinto nem mais raiva. Rever nossas coisas me ver revisitar as lembranças, e confirmar: nem parecer que era eu, e de verdade, não era. Mudamos tanto de lá para cá, que é impossível esperar que eu consiga reviver qualquer sentimento por você a essa altura. A nós, eu relego o esquecimento e a paz, de ter sido vivido e enterrado. Sem retorno para nós dois.
Anna Montez
Uma flor de muitas pétalas, que adora o silêncio e a possibilidade de se redescobrir através das palavras. Publicitária, comunicadora nata e aspirante a socióloga de bar. Adora uma causa perdida, um drama shakespeariano e beijo sedento no final da frase. Sou viciada em histórias. Me conte a sua.

Uma mensagem para o cara de março

Amiga de ex
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