
Sobre carregar o peso do quase
Me pergunto profundamente: se eu tivesse ficado, amor, teria sido diferente? É aterrorizante não ter resposta. Durante muito tempo eu considerei que era melhor interromper o processo se a gente já conhecia o fim: se a gente ia terminar no final das contas, para que se envolver? Para que se jogar de cabeça, correr todos os riscos, beber até a última gota, se a gente ia terminar desgastado e se odiando, depois de trocar todas as verdades e sentimentos até o fim?
Talvez fosse mesmo melhor interromper o processo ao meio, mas quem sabe, não é? Ninguém sabe com certeza. E não ter certeza é a pior certeza de todas. É a que mais definha, é a que mais condena. Mas também é a que mais impulsiona, a que mais te excita. Afinal, quem quer viver a vida deixando escapar uma lembrança qualquer, um sorriso perdido no silêncio, um olhar único no tempo, o abraço apertado que te comove, as suas mãos juntas que te dão força ou até mesmo uma fotografia? Mesmo depois do fim, mesmo que a gente chegue ao limite e não dê mais, qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê ou sem entender para quê vale a pena. Pelo menos é o que eu penso.
Melhor assim do que seguir em frente e não sobrar nada. E pior: que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Como a dor de uma grande perda ou traição. Você já foi traído? Já sentiu-se entrar em uma fenda no tempo e ver todas aquelas lembranças se desfazerem, enquanto você se questiona quem de fato é aquela pessoa que esteve ao seu lado – mas que você não a reconhece. É preciso de muito amor e coragem para ver além da dor e para reconhecer com coragem a dor no amor também. É, talvez, às vezes, é mesmo necessário considerar se vale a pena. É preciso encarar-se no espelho e questionar: você prefere viver com a incerteza de poder ter dado certo ou talvez com a certeza de ter acabado em dor? Talvez seja loucura, um pouco de medo. Em alguns dias eu diria covardia. Eu sempre odiei “quase”, mas às vezes é necessário abrir uma exceção. Certas pessoas merecem ser exceções. Talvez.
Anna Montez
Uma flor de muitas pétalas, que adora o silêncio e a possibilidade de se redescobrir através das palavras. Publicitária, comunicadora nata e aspirante a socióloga de bar. Adora uma causa perdida, um drama shakespeariano e beijo sedento no final da frase. Sou viciada em histórias. Me conte a sua.

Uma mensagem para o cara de jun

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