
Você precisa deixar morrer quem você pensa que é para se tornar quem é de verdade
Foi o pior momento da minha vida, deixe-me dizer. A confusão, a raiva em tempo integral, as escolhas erradas e aquela sensação de vazio era cruel e desesperadora. Por mais de uma vez eu desejei fugir, mudar de vida e de nome e recomeçar.. como se fugir de mim mesma fosse resultar em melhorias. Eu estou comigo mesma sempre – não dá para fugir disso. Logo, precisei encarar.
Eu estava fazendo escolhas erradas. Eu estava vivendo de maneira errada. Minha insatisfação era constante e precisei assumir que precisa fazer mudanças. E mudanças drásticas – o corte de cabelo e uma tatuagem nova não resolveriam meu problema.
No entanto.. nunca te dizem que mudar é tão difícil né? O ego sempre tenta nos fazer acreditar que tudo está bem, que aquela sensação de apego e autossuficiência é bacana, mas isso tudo é ilusão. A fragilidade e a sensação de inadequação é normal. É normal se sentir perdido, é normal ter vontade de mudar e não saber por onde começar. Você só precisa agir. Sair do lugar, se remexer e sentir com seu coração e sua alma. A gente sempre sabe quando tá no caminho errado, e por mais cômodo que ele lhe pareça.. você precisa saber que a paz de espírito vai cobrar seu preço e seu lugar uma hora e você precisará sair da zona de conforto. O preço é alto, o incômodo é fodido e eu chorei por madrugadas à fora até me render.
Por fim me rendi. E ela morreu – a minha versão fortificada, autossuficiente, brigona e bem sucedida. Aquela versão que bebia demais. Que tinha inúmeros amigos, queria e precisava ter alguém ao seu lado para ser completa e procurava em bens materiais, viagens e relações amorosas completar algo. Eu sempre parecia esperar e buscar por algo que eu nunca sabia o que era. No final eu descobri que buscava a mim mesma, e para isso, precisei deixar morrer essa minha versão iludida. Vira e mexe ela insiste em ressurgir, raivosa e forte, recobrando seu lugar.. e mesmo que isso fosse tornar as coisas mais fácil – devo admitir – a abraço, assim como abracei minhas fraquezas, meus medos e pesares e minha sensibilidade. Lido com meus dois lados, a rainha de gelo e a doce garota que só quer descobrir.
Aprendi que posso continuar tendo uma personalidade forte sem ter que gritar. Sem ter que brigar. Aprendi que posso ser dona de mim mesma e fazer exatamente só o que quero. E muitas vezes, fazer o que se quer é não fazer nada. Não precisa agir, dizer ou fazer algo só porque as pessoas esperam isso – não fazer, também é uma escolha. Aprendi que para ser feliz eu não precisava de mil amigos superficiais, apenas de poucos e bons. Aprendi que não precisava beber como se o mundo fosse acabar amanhã. Aprendi que não precisava sair de segunda a segunda, e que gostar de ficar sozinha e ficar sozinha é normal. Aprendi que não é porque gostam de mim e me querem por perto, eu tenho que estar lá. Só vou se eu quiser, e se eu não gostar, posso ir embora. Aprendi que sentir é normal, e não sentir também. Aprendi que às vezes a gente gosta, e às vezes não. Aprendi que gostar do outro é normal, e não há nada de errado em dizer que gosta, que se importa, que quer ficar junto. Do mesmo modo como você pode não querer, o outro também pode. Aprendi a respeitar e não a temer.
Mas é difícil. Às vezes a gente se esquece, às vezes eu exagero e o ego toma conta. É uma luta diária. Aprendi na porrada que o autoconhecimento e o autocontrole não é uma linha de chegada, e sim um percurso. Assim como eu e meus sentimentos somos cíclicos. Viro os dias e os meses alternando entre estar sociável ou não. Entre estar aberta amorosamente, entre querer silêncio e solitude, e às vezes, festas e convivência. Sigo seguindo meu coração, afinal.. a mente mente, e mente muito. Medito todos os dias. Escrevo todos os dias. Espero sinais, converso comigo mesma e aguardo respostas. E sempre as encontro.
Espero que você possa encontrar também.
Mariana Ravelli
Sempre tem alguém pra me dizer que estou falando muito alto ou que não preciso ser tão incisiva, mas a verdade é que o tempo passa e eu continuo ficando mais ácida e as pessoas mais chatas. Não gosto de barulho, não gosto de gente. Gosto de chás e cachorros fofinhos. Não toque no meu cabelo.

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